
A multiartista Adele Fátima receberá o Troféu Regina Ribeiro no dia 09 de agosto de 2025, sábado, quando acontecerá a segunda edição do Troféu Regina Ribeiro - Melhores do Ano de 2025, a partir das 18 horas no Restaurante Assyrio no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Intitulado ‘Uma Noite de Gala Árabe’, esse evento é uma produção da empresa Regina Ribeiro Produções Artísticas e conta com o apoio do empresário André Lap, e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Sendo uma famosa artista de repercussão nacional e internacional, Adele Fátima representa a versão brasileira do furacão Marilyn Monroe, com os fenótipos da cantora Diana Ross. Portanto, se trata de uma justa homenagem para alguém que deu seus primeiros passos na vida pública como dançarina do empresário e apresentador Oswaldo Sargentelli, um visionário em seu tempo, a quem Adele considera como segundo pai e foi seu padrinho de casamento.

Se por um lado, ela foi a mulata número 01 de Sargentelli, por outro, foi com ele que Adele aprendeu a ser profissional no mundo artístico, num tempo onde o politicamente correto permitia o termo “Mulata”. Entretanto, ser mulata representava ser vista como objeto de fetiche. Segundo Adele, foi através de Sargentelli que “As mulatas passaram a ser respeitadas”. Porém, Adele acrescenta:
“A profissão mulata nunca existiu. Existe cantora, atriz e bailarina. Mulata é apelido que português deu para a mula e que a gente aceita porque mídia é mídia”.

Em especial, Adele Fátima carrega um brilho próprio jamais visto na indústria do entretenimento. De modo incontestável, sua versatilidade como uma artista completa a levou a ocupar um lugar raro de protagonismo por todas as esferas que transitou, desde o início de sua carreira. Um feito inédito para qualquer fazedor de cultura, por mais potencial que se venha a ter ou revelar no show business.
Faz jus enumerar cada uma dessas vertentes separadamente para termos uma melhor compreensão da dimensão da grandeza de Adele Fátima.

ATRIZ
Em primeiro lugar, Adele Fátima é ícone da cultura brasileira, símbolo da beleza e da representatividade popular. Tornou-se um rosto conhecido nacionalmente nas décadas de 1970 e 1980, ao protagonizar o icônico comercial das Sardinhas 88. Logo na gravação desse comercial na praia da Macumba, no Recreio, Adele teve um prenúncio do que viria em seguida. A praia parou para assistir a filmagem. O mise-en-scène desse comercial serviu de ensaio para o formato das gravações de propagandas de cerveja nos dias de hoje. Por conseguinte, essa publicidade passava, praticamente, em todos os intervalos da programação da TV, atingindo as massas e, como estratégia de divulgação, o intenso tráfego da ponte Rio Niterói contava com cartazes na via de mão dupla.

Entre tantas outras publicidades estreladas por Adele, poderemos citar o carnê do Bangu Atlético Clube, o biscoito Cebolitos, o bronzeador na Itália e a marca de Café com Leite e Aguardente no Japão.
Nesse sentido, sendo tanto musa do Brasil e retrato da identidade brasileira, Adele foi levada por Augusto César Vanucci, para fazer parte da Linha de Shows da TV Globo, durante 10 anos participando de diversos programas como ‘Viva o Gordo’, ‘Brasil Pandeiro’, ‘Chico City’, ‘Fantástico’, ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’, ‘Escolinha do Professor Raimundo’ e ‘Os Trapalhões’. Participou das minisséries ‘Memorial de Maria Moura’ e ‘Agosto’ e das novelas ‘Gabriela’ e ‘Ti, Ti, Ti’. Para além da maior emissora da América Latina, Adele atuou em todas do Brasil como TV Tupi, TVE, TV Manchete, TV Bandeirantes, TV Record e TV SBT.

Ao passo que era uma estrela nacional, sua beleza estonteante chamou atenção do produtor Albert Broccoli, da United Artists, que produzia os filmes da série 007. Ele estava assistindo ao desfile das escolas de samba do camarote e, ao ver Adele no meio da multidão, perguntou:
“Quem é aquela? Dois dias depois, eles me chamaram para uma entrevista no Copacabana Palace. Na época, quem fazia o James Bond era o Roger Moore. Eles promoveram uma noite no (hotel) Méridien com mais de 50 fotógrafos, só para me apresentar" afirma, Adele.
É notório que sua participação na referida saga do James Bond em 007 ‘Moonraker: Contra o Foguete da Morte’ foi motivada exatamente por Broccoli ter ficado encantado ao ter encontrado, segundo suas próprias palavras, “O personagem certo, a que representava a beleza da mulher brasileira”. No entanto, como tantas mulheres negras enfrentaram (e ainda enfrentam), bastou um rumor de que Adele Fátima e Roger Moore, o próprio James Bond, teriam um envolvimento pessoal para que suas cenas fossem cortadas na edição final, ainda que seu nome tenha permanecido nos créditos, no cartaz e ela tenha estampado capas de revistas internacionais ao lado do ator. Este episódio, infelizmente, reflete mais um capítulo da consciência histórica que é o racismo nas indústrias culturais globais.
No entanto, não se pode apagar que Adele, por ter feito a Manuela, ela é, até hoje, a única Bond Girl brasileira da história do cinema mundial, bem como, está chancelada para usar a marca ‘Mulata 007’.

Assim sendo, a atriz Adele Fátima fez praticamente 20 filmes (sendo 4 internacionais) protagonizando clássicos dirigidos por cineastas da Pornochanchada, como ‘Histórias Que Nossas Babás Não Contavam’ (sucesso de público no cinema e na TV) e cineastas do Movimento do Cinema Novo citando a masterpiece ‘Natal da Portela’, obra que Adele mais gostou de fazer e protagonizou, cujo elenco, carrega nomes como Grande Otelo, Zezé Motta, Milton Gonçalves, entre outros dos melhores atores do Brasil. Na categoria de filmes independentes ao exemplo da necessária obra ‘As Divas Negras do Cinema Brasileiro’ codirigido pela inglesa Vik Birkbeck e pelo brasileiro radicado em Berlim, Ras Adauto. Nessa masterpiece Adele se junta às atrizes Zezé Motta, Ruth de Souza, Léa Garcia e Zenaide Zen e a intelectual Lélia González para relatarem a luta contra a discriminação no mundo artístico brasileiro.
Na arte efêmera, entre outras peças, Adele Fátima atuou por seis meses na temporada do espetáculo teatral ‘Férias Extraconjugais’ com direção de Atílio Riccó ao lado de Grande Otelo, considerado o maior ator do Brasil e um dos maiores atores do mundo, de acordo Orson Welles, cineasta norte-americano consagrado internacionalmente.

CANTORA
Sua trajetória de sucesso nacional e internacional como atriz não poderia ser diferente da sua faceta como cantora. Adele cantou com Cauby Peixoto no Cine Show Madureira, no Rio de Janeiro, e excursionou pela Itália, Chile, Argentina e Estados Unidos, além de ter feito uma participação especial no Hotel Nacional durante o show da banda ‘The Commodors’ liderada por Lionel Richie, parceiro de Michael Jackson, Diana Ross, entre outros célebres.
Acresce que Adele foi constantemente convidada para participar de outros eventos e festivais ao exemplo do Festival Internacional da Canção, para representar o Brasil, no Chile, num momento em que faziam sucesso no Brasil músicos como Gal Costa, Maria Bethânia, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Nesse sentido, por ser convidada para cantar no programa da TV Nacional do Chile, que possuía uma grande audiência no país, Adele virou estrela internacional na área da música. Todavia, dois dias depois da apresentação do Festival Internacional da Canção de Viña del Mar, Adele começou a passar muito mal e resolveu se tratar no Brasil para saber qual era a doença que ela tinha. Ao voltar ao seu país para se tratar, descobriu que não era nada grave. Era gravidez. Seu primeiro filho, Diogo, estava a caminho.
Cabe ressaltar que o Festival Internacional da Canção de Viña del Mar, nessa época, já era o maior festival de música da América Latina e um dos mais antigos festivais de música do planeta.

CARNAVAL
Eterna musa do Carnaval, Adele nasceu no Carnaval em 17 de fevereiro de 1954, em plena quarta feira cinzas, numa noite de lua cheia. Logo aos 04 anos de idade, ela saiu no Bloco Bafo da Onça, famoso bloco de carnaval que disputa o gosto popular do carnaval de rua com o lendário Bloco Cacique de Ramos. Aos 18 anos, foi coroada Rainha do Cordão do Bola Preta, que, hoje, arrasta mais de 2 milhões de pessoas nas ruas do Rio e vai continuar arrastando multidões pelo recém nomeado Circuito de Blocos de Rua Preta Gil.
Embora tenha sido destaque no Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, saindo em capas de revista e na Feijoada do Salgueiro, Adele acabou se apaixonando pela Bateria do Grêmio Recreativo Escola Mocidade Independente de Padre Miguel regida pelo Mestre André, pai do Andrezinho do Molejo. Adele chega na Mocidade em 1981, aos 27 anos, e como Castor de Andrade, Presidente de Honra da Mocidade, sempre foi um Gentleman, ele deu de presente de aniversário para Adele o carro Abre Alas da Escola, entretanto, Adele queria sair na frente da Bateria.

Com esse desejo, ela inaugura o cargo de Madrinha de Bateria. Aliás, a Bateria a reconheceu como Madrinha. O desfile era às 11 e 30 da manhã e devido ao sol escaldante na avenida em paralelo ao calor humano do sambódromo lotado, em pleno verão do Rio de janeiro, Adele e toda a bateria estavam com muita sede. Quando a Bateria fazia o recuo, o Seu Candonga dava água para os integrantes e o Castor de Andrade dava champanhe para Adele, que, por sua vez, dava champanhe para os músicos da Bateria e foi dessa forma que os componentes da Bateria começaram a chamar de Madrinha querendo mais Champanhe. Assim, nasceu o cargo de Madrinha de Bateria.
Em razão das confusões históricas sobre os papéis femininos no Carnaval que perduram até hoje, Adele explica que há diferenças. Atualmente, as meninas não são Madrinhas de Bateria e muito menos, Rainhas de Baterias “Porque não tem coroa. Elas são musas. Na minha opinião, a melhor de todas é a Mayara Lima do Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti”.
Coroando sua contribuição na cultura de modo geral e diversificada conforme Adele atuou em várias frentes, em 2019 Adele foi tema da Banda Amigos da Barra com o samba enredo ‘Adele Fátima, Um Furacão de Alegria’ composto por Xande de Pilares e Gilson Bernini.

NOVOS PROJETOS
Para 2025 e para os próximos anos, essa multiartista nos adianta que está envolvida em projeto de série, documentário, filme de ficção, espetáculo de teatro, livros e exposições. Enumerando diversos projetos multidisciplinares e de multilinguagem, esses serão os componentes necessários para que seja possível contemplarmos o rico legado construído ao longo da brilhante carreira de Adele Fátima.
“O lançamento da minha obra é um convite a um resgate cultural e histórico. Quero mostrar a essa geração e a outras que virão, como uma mulata conseguiu quebrar um antigo paradigma, abrindo mais um espaço na mídia para a mulher negra, valorizando sua imagem a nível internacional, criando divisas e mudando, de forma radical, a mentalidade e o comportamento da sociedade”, conclui Adele Fátima
Equipe Revista DigitAL Destaque | André Lap - CEO & Diretor | |
Adriel Alves - WebDesigner Ariel Alves - Designer Aija Alves - Designer |
Publicado por
Paulo Mileno
Ator, cineasta, produtor cultural, escritor
em 09/08/2025 às 12:25